Sobre o marrare número 10
O Marrare número dez dá continuidade ao perfil que vem mantendo desde sua inauguração no espaço virtual. Assim, temos a colaboração de professores doutores das diversas áreas do saber, representando várias instituições do Brasil e do exterior. Dessa vez, contamos com a participação da Professora Cristina Melo, da Universidade de Coimbra, que nos prestigia com um texto sobre Florbela Espanca.
Incidindo sobre uma temática eclética, os demais artigos problematizam as questões contemporâneas, através do entrelaçamento de assuntos que perpassam o histórico suicídio de Vargas, do ponto de vista da Psicanálise, bem como a questão do valor nas sociedades dominadas pela informação, do ponto de vista da Filosofia. Em contrapartida, a presença do Mito na Literatura é reincidente em dois artigos que tratam, respectivamente, do pensamento do homem primitivo na obra de Mia Couto e da atualização de Sísifo, como arquétipo, em várias obras de autores brasileiros.
Na seção intitulada Primeiros Ensaios, conta-se com a colaboração de dois jovens mestres em vias de doutoramento, revelando-se tanto na abordagem de temas, como a relação literatura, cinema e fotografia na pós-modernidade, quanto na desafiadora leitura de Eça de Queirós do ponto de vista da Psicanálise.
Um texto de Antero de Quental enriquece a seção Alfarrábios, e a resenha sobre o romance O Quase fim do mundo, de Pepetela, reforça a ampla presença da literatura de língua portuguesa nessa edição de O Marrare.
Sobre o café marrare
"Lisboa era o Chiado, e o Chiado era o Marrare, e o Marrare dava o tom (...)", escrevia Sousa Bastos, em "Lisboa Velha, Setenta Anos de Recordações". Inaugurado em 1820 e de certo modo sucessor do Botequim das Parras, o Marrare era o mais requintado dos quatro cafés que o napolitano António Marrare abrira em Lisboa. Um luxo, a decoração de madeira polida, que logo lhe valeu o sobrenome de Marrare do Polimento. Além da sala de bilhar, tinha ainda um pequeno pátio coberto por uma clarabóia envidraçada onde, no Verão, as senhoras podiam comer os melhores gelados da cidade. Polido era também o atendimento: criados de libré serviam excelente café em cafeteiras de prata. Requintes para uma clientela ávida de mudança. O Marrare tornara-se «o lugar de reunião de todos os elegantes e todos os homens de Lisboa», como escreveu Bulhão Pato. Basta lembrarmos alguns dos indefectíveis: Almeida Garrett, Alexandre Herculano, Passos Manuel, José Estêvão. Fechado em 1866, o Marrare reviveria em «Os Maias» de Eça de Queirós. No século seguinte, no mesmo número da Rua Garrett, teria digno sucessor: aquele que alguns considerariam o mais belo de Lisboa: o café Chiado (1925-63).
MAUPERRIN, Maria Jose. “Cafés literários de Lisboa e outras capitais européias”. In Revista Expresso, http://primeirasedicoes.expresso.pt/