Sobre o marrare número 9
Chegamos à nona edição d’O Marrare com mais uma novidade. Trata-se da seção intitulada Primeiros Ensaios, que conta com a colaboração de pós-graduandos de diversas instituições, convidados a participar com seus artigos sobre a literatura e outros campos de saber. Inauguram essa seção ensaios sobre escritores de várias nacionalidades, como Luandino Vieira, angolano, que aqui tem sua obra aproximada à de Vargas Llosa, escritor peruano; o brasileiro Machado de Assis, justamente homenageado num ensaio sobre Capitu; e ainda uma leitura do conto Civilização de Eça de Queirós.
Os artigos dos professores doutores provenientes de várias universidades, que colaboram com essa edição, contribuem para acentuar o caráter literário do periódico, com pertinentes reflexões sobre obras de autores de várias épocas, de Vieira aos nossos dias, incluindo-se aqui alguns escritores de países africanos, como Cabo Verde e Angola. Destaca-se a colaboração da professora Amélia Cherulli Alsina, da Universidade de Montreal, que contribui com o ensaio comparatista entre Garrett e Saramago, trazendo à tona a questão das identidades nacionais.
Essa edição conta ainda com a seção Alfarrábios que traz uma entrevista, ainda inédita no Brasil, com a escritora Ana Hatherly, publicada em 9 de fevereiro no jornal lisboeta, Diário de Notícias, para celebrar 50 anos de atividades literárias da escritora e poeta. A seção Resenha revela o novo romance de Pepetela, O terrorista de Berkeley, Califórnia, de 2008, que tem como uma das principais características o fato de ser a primeira obra do autor ambientada fora de Angola.
Cumpre assinalar que esse número de O Marrare é dedicado ao nosso querido e saudoso colega José Carlos Barcellos, grande companheiro, amigo e colaborador inestimável, que nos deixou no vigor de sua capacidade como professor, pesquisador e ensaísta. Para ele, essa homenagem e nossa saudade.
Sobre o café marrare
Digno herdeiro dos cafés do final de Setecentos, como o Nicola ou o Botequim das Parras, o mais célebre estabelecimento comercial de Lisboa do Romantismo foi ponto de encontro favorito para a geração de Garrett. Chamavam-lhe Marrare "do Polimento", por causa da madeira reluzente que o revestia. Talvez também pelo fulgor absoluto dos figurões que lhe iam abrilhantando as tertúlias, tornando ainda mais selecta a já por si elegante Rua das Portas de Santa Catarina (vulgo Chiado), centro absoluto da vida social do tempo.
(DIAS, Marina Tavares. Os cafés de Lisboa. Coimbra: Quimera Editores, 1999, p.38)