Depoimentos
HOMENAGEM À MEMÓRIA DE JOSÉ CARLOS BARCELLOS
Coube-nos a difícil tarefa de recolher depoimentos em homenagem à memória de José Carlos Barcellos, pois, como já registramos em homenagem anterior, “o lugar de onde falamos é, privilegiadamente, um lugar de conforto e desconforto a um só tempo”
(http://www.dialogarts.uerj.br/avulsos/insolito/estudosliterariosreunidos.pdf).
Assim, houve quem nem respondesse ao nosso convite – que pode ter soado de mal-gosto – para enviar um “depoimento”. Houve quem respondesse, dizendo não conseguir... e quem tentasse e não concluísse... Houve de tudo. Inclusive belos e emocionados depoimentos.
Alunos, colegas de universidades em que lecionou, antigos professores e orientadores, amigos... enviaram depoimentos sinceros, sentidos, prenhes de amizade, carinho, alegria e dor. Paradoxais pelo prazer de terem convivido com José Carlos e estarem, agora, privados tão cedo e subitamente desse convívio.
Seguem, iniciando-se pelo meu próprio, encarregado que fiquei de ordenar essa seção, os depoimentos recolhidos...
Flavio García
Professor de Literatura Portuguesa da UERJ
Gozamos do conforto de termos convivido com José Carlos Barcellos desde 1991, ano em que ingressamos no curso de Mestrado em Literatura Portuguesa na UFF. Chegamos àquela universidade já à sua procura, pois alguns de nossos melhores e mais apreciados amigos – António Basílio Gomes Rodrigues e Júlio Carvalho, ambos professores da UERJ naquela época – indicaram-nos José Carlos como nosso possível orientador – ele concluía seu doutorado em Literatura Portuguesa na USP, tendo por objeto de pesquisa a literatura neo-realista portuguesa, e nós nos interessávamos por estudar a obra de Fernando Namora. Mas razões outras, entre elas os prazos, afastaram-nos da orientação de José Carlos e nos levaram até o estudo da obra de Gil Vicente. Ainda assim, desde aquele ano, tornamo-nos amigos.
Hospedávamo-nos em seu apartamento quando íamos a São Paulo; recebíamo-lo em nosso apartamento para lanches, jantares e licores até o amanhecer; saíamos juntos para comer em restaurantes; discutíamos horas perdidas sobre cultura, literatura e autores portugueses. Líamos seus textos por prazer e com sede de ensinamentos, acompanhando o final de seu Doutorado em Letras e sua Graduação e seus Mestrado e Doutorado em Teologia. Ele lia nossos textos, a pedido nosso, colaborando com seu rigor crítico-teórico-metodológico.
Tivemo-lo em nossa banca examinadora de Mestrado e de Doutorado. Também, por obra do destino, na banca do concurso que fizemos para a UERJ, em que passamos em segundo lugar, tendo recebido dele, um dos três avaliadores, as notas mais baixas que nos foram dadas. Mas esse era o José Carlos, que, em sua convicção de coerência e rigor, não beneficiava amigos nem prejudicava inimigos – se é que os tivera.
Gozamos do desconforto – se se pode gozar de desconforto – de termos perdido José Carlos Barcellos muito cedo. Deixou-nos em 14 de fevereiro deste ano de 2008, antes de completar 50 anos no próximo dia 19 de julho.
A academia, a universidade, os meios intelectuais – nacionais e estrangeiros – perderam o intelectual, o acadêmico, o professor; nós perdemos um grande amigo. Faz-nos falta, a cada texto que escrevemos, o olhar crítico e sempre atento de José Carlos, disponível para ler, opinar, sugerir, corrigir. Faz-nos falta o bom papo, a boa conversa, a agradável companhia – pessoalmente ou por telefone, na presença física ou na distância da voz – que toda semana desfrutávamos. Ficou um vazio, que procuramos preencher lendo seus textos, revendo nossas fotografias... revificando – revivendo do que ficou.
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A humanidade – ainda que pareça pretensão tal amplitude de cenário – perdeu um ser humano admirável que, como poucos, sabia respeitar seu semelhante! José Carlos Barcellos, quase meio-século, 1958 – 2008, se foi. Mas suas idéias ficaram(ão) eternas.
Ana Luísa Carvalho Branco Náufel
Aluna da graduação no Curso de Letras da Universidade Federal Fluminense
O nosso querido e eminente Professor José Carlos Barcellos nasceu para o nobre ofício de ensinar, transformando as questões mais complexas e de difícil assimilação em algo tão simples que quaisquer de nós conseguíamos passar ao nível da compreensão. Era um espírito de intensa e rara beleza que irradiava sua luz por onde passava e que, com certeza, continua a nos doar seu brilho: “Estrelas não morrem; apenas mudam de lugar”. Agradeço por ter tido a imensa honra e o grande privilégio, mesmo que pelo curto período de seis meses, de fruir de sua presença e sorver um pouco da sua sabedoria.
Cláudia Amorim
Professora de Literatura Portuguesa da UERJ
Ao lembrar-me do nosso querido colega José Carlos Barcellos, uma palavra me vem à mente: companheirismo. Antes de tudo, José Carlos foi uma pessoa rara, dessas que somam, engrandecem o trabalho de todos. Com sabedoria e dedicação, companheirismo e sensibilidade, José Carlos estava sempre contribuindo de alguma forma com o trabalho de todos os seus pares. Admirado por seus alunos e por colegas do Instituto de Letras da UERJ e da UFF, instituições em que trabalhou, José Carlos, tão precocemente retirado do nosso convívio, deixa-nos um enorme vazio. Que finquem raízes seus ensinamentos, seu exemplo de dedicação e companheirismo. A você, querido colega, meu agradecimento e minha singela homenagem.
Eliana Yunes
Professora de Literatura da PUC-RJ
Pesquisadora e estudiosa de Literatura Infanto-Juvenil
Barcellos: vem-me à memória o generoso e leal amigo, o intelectual rigoroso, o teórico sutil e preciso, o amante da literatura, o incentivador de vocações ao magistério, o pesquisador aplicado e o articulador animado de estudos, de estudiosos, de projetos de ações...
Barcellos, lembro-me do leitor incansável que estimulou a configuração da teo-poética brasileira, uniu pessoas e instituições, favorecendo um campo fértil para a pesquisa interdisciplinar.
Barcellos, revejo a delicadeza e a firmeza concomitantes, a "expertise" e a simplicidade em convívio, o sofisticado pensador e o atencioso orientador de braços dados: o amor à vida prevaleceu, a modéstia diante da morte, a certeza do amor de Deus.
Ida Ferreira Alves
Professora de Literatura Portuguesa da UFF
Conheci José Carlos Barcellos em 1985, quando era o mais jovem professor concursado de Literatura Portuguesa no Instituto de Letras da UFF e eu, quase de sua idade, era aluna do Curso de Especialização de Literatura Portuguesa. Foi, então, meu professor de “Metodologia de Pesquisa” e, junto com seu pequeno grupo de alunos, íamos para a biblioteca de Letras a pesquisar autores,
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trabalhos e produção relevante na área. Desde aí, marcaram-me sua tranqüilidade, generosidade e simplicidade, qualidades aliadas a um conhecimento seguro e crítico, inquieto e exigente.
Anos depois, também concursada na UFF, tornei-me sua Colega de Setor e, aí sim, trabalhando em equipe, pude avaliar com mais vagar e maturidade o seu perfil pessoal e intelectual e defini-lo como um humanista, seguro em suas posições, aberto ao diálogo, alegre como um menino cheio de esperança.
Penso em José Carlos como um homem de saber, paciente nas leituras, insatisfeito com o conhecimento adquirido, construindo com solidez sua reflexão teórica e crítica, fiel aos seus caminhos de formação intelectual, mas sempre aberto a novos projetos, especialmente atento às idéias de seus Colegas e de seus alunos, graduandos e pós-graduandos, cujos projetos de pesquisa acolhia com entusiasmo.
Toda sua erudição não impedia a alegria de menino, a simplicidade no agir, a boa vontade com os alunos diversos, compreendendo suas dificuldades e seus limites. Não à toa, esses alunos eram unânimes no reconhecimento de seu trabalho, na admiração por suas aulas interessantes e cheias de um verdadeiro desejo de partilha do saber. Era realmente um intelectual, um mediador, um profissional do mais alto gabarito, um Colega cuja palavra todos os outros respeitavam e acatavam nas, por vezes, intranqüilas reuniões departamentais. Era um homem de paz e de reflexão, um pensador.
O Instituto de Letras da UFF sente e sentirá muito sua ausência, lembrando sempre sua presença tão humana, seu riso brejeiro e sua palavra equilibrada e paciente. “[...] Porque há em nós, por mais que consigamos / Ser nós mesmo a sós sem nostalgia, / Um desejo de termos companhia - / O amigo como esse que a falar amamos.” (Fernando Pessoa)
Laura Cavalcante Padilha
Professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da UFF
Conheci José Carlos em seu concurso para o Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas, na disciplina de Literatura Portuguesa. Ao ler sua prova escrita, fiquei fascinada com o amadurecimento e o “mais saber”, de leituras e de experiências feito, de um professor que me parecia, então, ser muito jovem.
Com o passar dos anos, a primeira impressão se fez certeza. Com serenidade e sabedoria, José Carlos teceu os fios de sua carreira nesta casa, com a paciência e a firmeza das míticas aranhas. Com atenção e carinho, ele teceu, igualmente, a manta de afetos que sempre me cobriu nos momentos difíceis por que passei. Por fim, com alegria e discrição, ele soube tecer os tapetes que atravessamos juntos em momentos muito felizes.
Agora, onde ele se encontra, com certeza está tecendo muitas outras telas com amigos que lá encontrou e, no futuro, também o fará conosco que o encontraremos.
Maria da Conceição Corrêa Pinto
Professora de Teologia da PUC-RJ
Orientadora do Doutorado em Teologia
José Carlos gostava do verso de Vitor Hugo: “Chaque homme dans as nuit s'en va vers sa lumière”. O caminho, ele o fazia com autenticidade e integridade de encantar. Do que via como importante achegava-se a passos largos. Iluminava-o a convicção de que a fé em Jesus Cristo é encarnatória, e de que lhe propunha interessar-se por pessoas em mais diversas realidades. Assim como respeitava amigos ou desconhecidos, respeitava a si mesmo, sempre autêntico, preocupado com o ser, nada com o parecer. Dizia o que pensava. E pensava com firmeza, reconhecia o peso de sua reflexão e conseguia ser, ao mesmo tempo, de uma humildade impressionante. Aprofundava sua espiritualidade cristã, escolha que fizera de passar das situações humanas à unidade e santidade
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divinas. A literatura e a teologia, em relações recíprocas, alargavam-lhe os horizontes com pontos de luz e penso que vinha daí a lucidez sobre o drama humano a alegria indefectível, a disposição para o trabalho que o entusiasmou até o último momento.
Até breve, José Carlos. Dezoito anos de amizade, dez de acompanhamento acadêmico.
Márcio Ricardo Coelho Muniz
Professor de Literatura Portuguesa da UFBA
Conheci Zé Carlos quando estava no meio de meu curso de graduação em Letras, na UFF, e ele havia acabado de entrar para a mesma Instituição, como professor concursado. Àquela altura, eu já havia cursado todas as disciplinas de Literatura Portuguesa, mas a fama do novo professor fez-me matricular-me numa disciplina optativa que ele oferecia para o semestre seguinte, dedicada aos estudos da obra de Gil Vicente. Aí começaram duas paixões: pela obra de Mestre Gil, que passou a ser e ainda é objeto constante de minhas investigações; e pelo professor e, depois, amigo, Zé Carlos.
Depois dessa disciplina, refiz, como aluno ouvinte, todas as disciplinas de Literatura Portuguesa que ao longo de dois anos Zé Carlos ministrou. Fiz ainda disciplinas de Literatura Grega, sobre a Tragédia, que ele também ministrou em substituição da professora da disciplina, que havia se afastado para o doutoramento; fui seu Monitor na área de Literatura Grega; contei com ele em minha banca de Mestrado, já na USP; e, ao longo deste percurso, tornei-me seu amigo.
Zé Carlos ainda foi responsável por meu não abandono da docência – numa daquelas crises de identidade pós-conclusão da Graduação -, assim como por minha entrada no magistério superior, animando-me e movendo suas relações em São Paulo para me conseguir uma vaga numa faculdade particular. Por sua ação, tornei-me professor da Universidade Ibirapuera, onde lecionei por doze anos.
Durante todos esses anos, muitos almoços, jantares, cafés, viagens a passeio e a congressos asseguraram e possibilitaram que, mesmo distante – pois eu já morava em São Paulo e o Zé, no Rio –, nossa amizade se mantivesse viva e constante. Desnecessário dizer que durante muitos anos de minha docência sentia o exemplo de Zé Carlos a orientar-me. Não recorrerei a adjetivos para caracterizar este exemplo, mas basta dizer que eu próprio reconhecia e ainda reconheço sua forte influência em minhas escolhas e em minha prática profissional. Com sua partida, para além das lágrimas, derramadas ou engolidas, ficou certa sensação de desamparo e insegurança: desamparo pela falta do amigo, sempre perto, ainda que longe espacialmente; e insegurança pela falta do Mestre, sempre pronto a ajudar, a avaliar, a corrigir, a mostrar caminhos mais fáceis e produtivos. Aceitar os desígnios de um destino que o levou tão cedo é o que nos resta. Ter a certeza de que, com sua profunda fé e bondade, ele certamente está onde desejou e onde merece, é o que me consola.
Maria do Amparo Tavares Maleval
Professora de Literatura Portuguesa da UERJ
Professora de Literatura Portuguesa da UFF (aposentada)
Creio que quando o assunto é por demais grandioso o melhor é calar, por reconhecer-me impotente para expressá-lo condignamente. Mesmo assim, gostaria de expressar a minha gratidão pelo convívio com o colega José Carlos Barcellos e destacar, dentre tantos outros, o exemplo maior que nos deixou, de amor ilimitado à docência.
Lembro-me, com carinho e admiração, da forma abnegada e prazenteira com que, mesmo gravemente doente, jamais se ausentava da sala de aulas. Era comovente vê-lo ensinando aos alunos (e a nós, colegas) não apenas conhecimentos de literatura portuguesa, mas a prática da esperança e do amor – da vida quotidianamente vivida com altruísmo e dignidade.
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Obrigada, José Carlos.
Maria Helena Sansão Fontes
Professora de Literatura Portuguesa da UERJ
Conheci o José Carlos muito antes de sermos colegas na UERJ. Lembro-me de que já me impressionaram, naquela ocasião, a lisura e o respeito com que ele se conduzia na banca de que participava então. Era uma postura rara para mim, acostumada a ver egos inflados nessa posição de examinador. José Carlos, sem ser humilde, mantinha o equilíbrio exato dos que conhecem sua importância numa situação como aquela: atento, solícito, compreensível, rigoroso, pronto a contribuir para o crescimento daquele a quem pertencia o momento. Eu o admirei desde aquele dia. Com sua rápida passagem entre nós, consolidou-se aos meus olhos aquela imagem do colega equilibrado, sensato, amigo e, sobretudo, de um ser humano acima de qualquer suspeita. Como lamento não tê-lo mais entre nós!
Marina Machado Rodrigues
Professora de Literatura Portuguesa da UERJ
José Carlos Barcellos não está ausente. Contudo, a palavra sensata, a generosidade, o ombro amigo, nos fazem muita falta agora. Fica a saudade de uma presença que não nos abandonará porque, cunhada em cada um de nós, está a memória viva de quem não passou.
Nadiá Paulo Ferreira
Professora de Literatura Portuguesa da UERJ
O que falar sobre alguém que, com o passar dos anos, transformou o convívio acadêmico na mais pura amizade? E mais: falar depois de sua partida. Não é só triste. É angustiante. Até porque, nesse exato momento, se cruzam amor e morte. Aliás, a morte era o tema de nossas conversas últimas, já que ambos estávamos passando por essa experiência de esbarrar com a morte. Ele lutava contra um câncer. Eu tinha tido uma trombose arterial. Ele sofria com a quimioterapia. Eu estava abalada com esse inferno que se chama CTI. Mas, mesmo assim, falávamos de nossa garra de querer viver, de nossos sonhos. Sem dúvida, os sonhos são tecidos por desejos. Desejar é apostar no futuro. A esperança sempre aponta para o amanhã. Quantos projetos! É claro que esses projetos tinham um elo comum: o amor pela literatura portuguesa. Falávamos, também, muito sobre a transformação da universidade brasileira, onde a reflexão e o saber não têm mais lugar. Agora, o que conta é a quantidade de artigos escritos em revistas diagnosticadas e as presenças em congressos. Ficávamos tristes. Mais tristes ainda com nossos pares que se tornaram verdadeiros guardiões da estatística. Nesse panorama sombrio, José Carlos me dizia: – Nadiá, o que conta é o que vamos deixar por escrito. Os textos, produtos de nossas pesquisas e reflexões, é o nosso legado. O resto tem como destino a sina de nosso corpo, que não é outra senão o desaparecimento do mundo. Sem corpo, resta um nome e uma obra. É a obra que imortaliza o sujeito que se aloja em um corpo. Vamos ler José Carlos e descobrir o estilo que marcou a sua existência singular no mundo.
Nelly Novaes Coelho
Professora de Literatura Portuguesa da USP
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Orientadora no Doutorado em Literatura Portuguesa
Par inter pares... Desde os primeiros tempos de nosso convívio intelectual na USP (nos idos de 1980-90!), pressenti em você um espírito humanista extremamente sensível. Espírito que se mostrava, não só em sua participação atenta nos seminários e na natureza dos temas de suas monografias, como também nas longas conversas, que mantivemos durante todo o tempo de elaboração de sua tese de Doutorado, em Literatura Portuguesa. Foram anos!
Sua atração pela sondagem do oculto, sob as realidades aparentes, guiou-o desde sempre e se revela já no título da tese, brilhantemente defendida: “O Homem Problemático em Cerromaior de Manuel da Fonseca”. Mais do que a Injustiça Social, que é denunciada pelo romance neo-realista português, o que o atraiu nele foi a degradação humana, fruto daquela Injustiça. E sua análise se concentrou no “herói problemático”, o homem sondado em seus avessos.
Sondagem que iria assumir uma outra dimensão quando, ao voltar para o Rio e já professor universitário, você decide penetrar na área de Teologia e, como que, recomeçar sua carreira acadêmica, com novo Mestrado e novo Doutorado, na PUC-RIO. Só “almas de eleição” escolheriam/enfrentariam esse novo desafio... e você o fez com o brilho de sempre.
A escolha de Julien Green, como corpus de seus novos estudos, revela a crescente exigência de seu eu profundo, em relação à experiência humanista/espiritualista. Não por acaso, o eleito foi esse grande romancista católico, que se destaca entre aqueles que se debruçaram, quase agonicamente, sobre o mistério da espiritualidade, e transformaram a sua alta criação literária numa busca constante da Verdadeira Identidade do Eu em relação ao Outro. Do homem em relação a Deus. Ao relermos, hoje, esse seu profundo/arguto estudo sobre Julien Green (“Literatura e Espiritualidade”. 1996 e “O Drama da Salvação”. 2000), sentimos que você, inconscientemente, já se preparava para partir.
José Carlos, querido companheiro de ideais, é em dor que eu me despeço... é em alegria que espero reencontrá-lo um dia, em algum lugar...
Opázia Chain Feres
Professora de Italiano da UFF
Amiga; quando estudante, colega na USP; como professora, colega na UFF.
14 de fevereiro do ano de 2008: insuficiência e vazio me acompanham em meio à perplexidade diante da ausência do amigo verdadeiro...
– Você olhava para as pessoas e coisas e as via e tinha consciência de vê-las.
– Você considerava a vida um bem e o Bem a essência de tudo.
– Você pertence à linhagem daquelas criaturas decisivas e raras, que personificam a nobreza humana e sua integridade intrínseca.
– Você tinha uma capacidade inesgotável de renovação não dispersiva de todo o seu ser e a rara magnificência da simplicidade na grandeza.
– Você viveu com extrema elegância tudo o que lhe coube, até o último instante.
Fruí de seu olhar penetrante e benigno, de seu discernimento amoroso, de sua generosidade sem fim; fruí de sua claridade em meio à confusão.
Para os que o amaram, você foi embora ‘antes do tempo’. Ficam ‘os ecos de sua voz’, sua imagem, seu conselho, sua amizade e amor.
Tesouro que nenhum mapa consigna, deixou-me um céu aberto, a própria família e tantos amigos:
– Obrigada! Muito, muito obrigada!
Zilda Maria Zapparoli
Professora de Lingüística da USP
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Para tecer, com carinho, a minha homenagem ao José Carlos Barcellos, rememoro o encontro com o aluno e amigo querido. Conheci José Carlos na USP, em 1979, como meu aluno do curso de Lingüística da FFLCH, no qual logo se destacou pelo seu caráter, dignidade, inteligência, simplicidade e responsabilidade, atributos que lhe garantiram o perfil de aluno exemplar. Lembro-me bem da profundidade de suas reflexões nas discussões de textos, enriquecidas com a sua vasta cultura geral. Suas qualidades morais e intelectuais levaram-nos a uma amizade compartilhada por colegas do curso em nossos encontros semanais pós-aula, às sextas-feiras, no meu apartamento no Alto da Lapa, bem como por meus familiares, em Itu, quando desfrutamos a sua presença sempre enriquecedora enquanto professor da Faculdade de Filosofia. Fica, para mim, o exemplo edificante da dimensão humana, intelectual e espiritual do José Carlos, e a graça de tê-lo tido como aluno e amigo na celebração do mistério maravilhoso do encontro.
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O MARRARE - Revista da Pós-Graduação em Literatura Portuguesa da UERJ
www.omarrare.uerj.br/numero8/jose.htm
Número 9 (2008) - ISSN 1981-870X