Apresentação
O Marrare, em seu décimo terceiro número, se tornará acessível aos deficientes visuais. As literaturas portuguesa, brasileira e africana, o teatro, a música, a poesia e algumas reflexões sobre a arte na pós-modernidade são os temas desta edição. Na seção “Alfarrábios”, publica-se a carta, na qual Eça de Queirós se defende da crítica de Machado de Assis, na época em que é lançado seu segundo livro, O crime do Padre Amaro. O escritor da Guiné-Bissau, Abdulai Sila, é entrevistado por Érica Cristina Bispo.
Alberto Pucheu faz uma leitura de O Homem sem Qualidades de Robert Musil. Antonio Jardim problematiza as relações entre a música e o pensar. Denise Maurano Mello levanta uma série de questões sobre a arte contemporânea, contrapondo-a com a arte moderna. Luiz Fernando Dias Pita destaca os paradoxos do Humanismo em Portugal e as características do latim renascentista no poema “Vellet Amoribus Renuntiare” de Diogo Pires. Iremar Maciel de Britoescolhe um escritor brasileiro, Oswald de Andrade (A morta) e outro galego, Xesus Pisón (Animal vacío) para ilustrar uma das tendências do teatro do século XX: a valorização do jogo. Luci Ruas discute a relação morte/vida em Maria Gabriela Llansol. A leitura da écloga V, de Luís de Camões, “A quem darei queixumes namorados”, feita por Marina Machado Rodrigues, visa à retomada das seguintes questões: o petrarquismo; o neoplatonismo; o código cortesanesco; as heranças clássicas e italianizante, que são transformadas “quer pela mundividência maneirista, quer pela sensibilidade própria de Luís de Camões.” Mário Bruno estuda a obra de Abel Botelho a partir do conceito psicanalítico de pulsão de morte. Mirian da Silva Pires lê o romance A maçã no escuro de Clarice Lispector, baseando-se no pensamento de Espinosa. Valdemar Valente Junior se dedica a atividade epistolar de Mário de Andrade, recortando o “desapontamento com sua geração”, a “crise pessoal e os momentos finais de sua vida”.
Na seção “Congressos, Jornadas e Seminários”, Inocência Mata estuda a literatura pós-colonial de Angola como uma escrita de ruptura que dá continuidade “a escrita da nação, embora não já numa perspectiva nacionalista” e Nadiá Paulo Ferreira se dedica ao estudo do amor cortês a partir das contribuições de Jacques Lacan.
Na seção “Primeiros ensaios”, temos dois trabalhos. O estudo de Andreza Barboza Nora sobre a sátira que Gil Vicente faz aos “falsos amadores” na peça Tragicomedia de D. Duardos e o de Simone Cristina Manso Escobar sobre Amanhã de Abel Botelho, como um testemunho do desenvolvimento do socialismo português e da ruína da monarquia como estrutura política.
Três livros são apresentados na seção “Resenhas”: Mania de Explicação de Adriana Falcão por Cíntia Machado de Campos Almeida; Caim deJosé Saramago por Isabelle Meira Christ e Dormir com Deus e um Navio na Língua de Eduardo White por Fábio Santana Pessanha.
Sobre o café Marrare
Á sala de O Marrare seguia-se, à direita, um corredor, com mesas de pedra a um e a outro lado, e um espelho no fundo; logo depois a casa do bilhar, n’uma espécie de pateo, coberto com uma larga clarabóia. À entrada, à direita, havia um pequeno gabinete, onde, no verão, as senhoras tomam neve. No inverno era esse o gabinete predileto de Manuel Passos e dos seus camaradas políticos, alguns da emigração, como Herculano, Marreca e José Estevão. (Manuel, Passos. “O Marrare do Polimento”. In: PATO, Bulhão. Memórias. Scenas de infancia e homens de lettras. Lisboa: Tipografia da Academia Real das Sciencias, 1894, 3v, tomo I. p.144,145).