O Marrare número 15
Homenagem ao prof. Dr. Leodegário A. de Azevedo Filho

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UMA PÁGINA PARA LEMBRAR: O PROFESSOR, O HOMEM, A OBRA

Marina Machado Rodrigues
Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ UERJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro /UHF
mr.marina@terra.com.br

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Neste número especial, O Marrare, Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ, presta uma justa homenagem ao nosso querido e saudoso Prof. Leodegário A. de Azevedo Filho, professor Titular de Literatura Portuguesa e Emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Fundou a Cadeira de Literatura Portuguesa - disciplina que lecionou por mais de quarenta anos em nossa universidade - e formou gerações de alunos, os quais aprenderam a respeitá-lo pelo saber, pela disposição, pela generosidade, pela firmeza, dentre as inúmeras qualidades que reunia. Alguns de nós tornaram-se seus assistentes; outros também seus amigos. Uma se casou com ele e lhe deu dois filhos. Muitos se afastaram, mas dificilmente o esqueceram.

Amigos para a vida toda teve inúmeros. Ultimamente, com um tom brincalhão que tentava disfarçar a mágoa, dizia: “- Não me perguntem nada! Morreram todos! Mas a memória teimava em denegar a falta... Através das histórias, das frases, dos poemas - que repetia sempre - cada um deles ressurgia de um tempo que não podia ser recuperado e que somente pela via da afeição era resgatado do esquecimento. Era o seu jeito de homenageá-los. Era o seu jeito de burlar a morte. Não morreram todos. Muitos participam desta homenagem que se faz aqui.

É ainda sob o forte impacto da perda, que nos vem à lembrança a imagem de nosso mestre e amigo. Aquele que sabia de cor quase toda a literatura portuguesa e que, com um entusiasmo de dar inveja, recitava, de D. Joan Garcia de Guilhade a Fernando Pessoa, os textos que nós aprendemos a amar: “ Senhora, partem tam tristes...”

Com ele, conheci nosso Poeta maior. Também a ele devo os ensinamentos e o primeiro contato com a Crítica Textual, disciplina que leciono atualmente na UFF. Como aluna do Curso de Mestrado da Federal, em 1981, integrei seu projeto de pesquisa que, naquela altura, se propunha examinar e listar os manuscritos quinhentistas, com vistas à constituição do corpus minimum. Do comum amor pelo Poeta, surgiram os projetos que desenvolvemos juntos ao longo da vida. Do trabalho, nasceu a convivência e, com ela, uma amizade fraterna que se consolidou sempre mais ao longo de todos estes anos. O meu jeito de tentar superar o vazio deixado por sua ausência é continuar a obra. A conclusão da edição crítica da lírica de Camões, seu contributo mais significativo, foi promessa feita quando a disposição já lhe faltava para prosseguir e a saúde precária já o impedia de, como antes, “varar as madrugadas com uma garrafa de café e dois maços de cigarros”. Ainda no ano passado combinamos a divisão das tarefas para que pudéssemos concluir o segundo volume das éclogas o mais rapidamente possível. Mas não houve tempo... A morte pressurosa atrapalhou nossos planos.

Algumas vezes, em meio aos “trabalhos excessivos”, que é o de fixação dos textos líricos de Camões, vejo-me interpelando o mestre. Para além da promessa feita, a conclusão de sua obra é uma forma de diálogo possível. Significa poder recriá-lo todos os dias: nas citações, nas dúvidas, nas críticas, nas lições aprendidas. É uma forma de burlar a morte, como ele o fazia. E depois? Só o tempo.

Atualmente, trabalho na reconstituição dos textos em versos de redondilha. O volume do Glossário está organizado e atualizado até a etapa atual do trabalho. As éclogas já foram transcritas e terão seus textos estabelecidos muito em breve. Entretanto, a continuidade deste trabalho se deve ao legado metodológico deixado por ele. Meus alunos de Crítica Textual na UFF têm aprendido, com muito entusiasmo, seus ensinamentos que possibilitaram a descoberta de um novo Camões. Assim, Leodegário é revivido a cada dia pela nova geração que será também responsável por imortalizar o seu legado.




Marina Machado Rodrigues
Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ UERJ
Universidade Federal do Rio de Janeiro /UHF

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